Como sabemos a indústria do Fitness possivelmente mais do que nenhuma outra é extremamente permeável a modas e “tendências” que se alastram também para o campo da reabilitação. No ano tal é a moda disto, no ano seguinte é a moda daquilo. E depois existem as modas que começam e tendem a ficar. Este ano estou para ver o que é que vai aparecer!
Ora lamento informar mas, moda não é…ciência! Tendências não constituem… ciência! Se estas influenciam a forma como se conduz alguma investigação? Isso é outra estória. Que tem uma parte positiva quando se tenta investigar de forma fiável, não enviesada se uma teoria corresponde à verdade. E a parte negativa verifica-se quando existe enviesamento para tentar apoiar uma determinada teoria que pode não ter suporte científico.
Esta última é a mais perigosa pois vai, com uma certeza muito grande, influenciar a prática de milhares de profissionais que não questionam essa investigação. E mesmo mais tarde quando se realizam estudos de revisão cujos resultados apontam para conclusões pobres, especulativas e metodologias de baixa qualidade, os danos já estão causados.
Se reflectirmos um pouco sobre a variável que é transversal a todas (mesmo todas sem excepção) as modalidades de fitness e reabilitação? Aplicação de Força! Não acreditam? Dou-vos vários exemplos:
– Resistência Manual
– Resistência do peso do corpo (também designado de calisténico)
– Resistência dos elásticos
– Resistência provocada por máquinas de “musculação”
– Resistência dos pesos
– Manutenção do Equilíbrio (não postura, não é a mesma coisa!)
– Resistência de molas (muito comum no Pilates)
– Resistência da água
– Exercício “cardio-vascular” (Sim o “cardio” é um exercício de força)
– Massagem (seja ela qual for é uma força aplicada ao corpo)
– Manipulação articular
– Ondas de choque
– Ultrassom
– Etc.
Em que modalidades estão representadas estas diferentes formas de resistência? Em todas! Ioga, Pilates, Personal Training, aulas de grupos, corrida, andar de bicicleta, qualquer modalidade terapêutica, etc.
Por que é que a força é tão importante então?
A resposta mais simples? Porque sem ela não existiríamos!
Foi através da força que ocorreu o nosso desenvolvimento como espécie.
Toda a nossa tecnologia biológica foi desenvolvida para funcionar com uma força que nos puxa para o centro do nosso planeta.
Quando os astronautas permanecem demasiado tempo no espaço, os seus corpos sofrem várias consequências devido ao efeito da microgravidade. As mais frequentes são a perda de massa muscular e óssea com concomitante perda de capacidade contráctil muscular (que obviamente reduz a capacidade dos músculos produzirem força) e o desenvolvimento de problemas cardíacos devido a uma alteração na forma do coração.
Para lidar com a gravidade, o nosso corpo está munido de mecanismos que permitem que o sangue circule em sentido oposto ao da gravidade, denominados de mecanismos de retorno venoso. Se a gravidade deixa de exercer a sua força certamente o sistema circulatório irá ressentir-se dessa alteração de ambiente.
No que diz respeito ao exercício físico, a força é utilizada para conseguirmos atingir os nossos resultados, sejam eles quais forem! Perda de massa gorda, aumento de massa muscular, ganhos de amplitude articular, melhoria da função cardio-respiratória, etc.
Na reabilitação, a força é utilizada em qualquer processo terapêutico com a finalidade de melhorar a funcionalidade da articulação afectada bem como os tecidos que a envolvem.
No desporto, é a preparação física através da força que se consegue melhorar o desempenho desportivo.
Ok! Qual o propósito disto? Perguntam vocês.
Força é um agente de mudança como podemos verificar nos exemplos que referi anteriormente.
Sem força nós não existiríamos. Sem força não existiria anatomia nem fisiologia. Aliás a anatomia e a fisiologia são um produto da força como agente de desenvolvimento e mudança que é.
Então porque raio é que no fitness e na reabilitação, mas principalmente no fitness, o estudo da força (biomecânica) não é uma prioridade na formação destes profissionais??!!
Existem várias razões mas a principal, como eu já ouvi muitas vezes é porque é difícil e não tem aplicabilidade prática. Ah sim? E o estudo da química é fácil? A anatomia é fácil? A fisiologia é fácil? Mas temos que saber! Pelo menos aquela que é fundamental para exercer a profissão.
Nas faculdades a biomecânica é-nos ensinada de uma forma muito pouco prática! Levando os profissionais a não darem continuidade ao estuda desta temática.
Depois há o mito de que estudar biomecânica só serve para efeitos de reabilitação. Nada poderia estar mais longe da verdade. É tão importante na reabilitação física como o é no personal training. Na segunda parte deste artigo irei explicar como esta ciência ajuda a tornar o Personal Training e a reabilitação verdadeiramente personalizados.
Na grande maioria dos cursos profissionais a formação em biomecânica é quase inexistente. Outras vezes leciona-se biomecânica confundindo-a com o estudo de outras matérias como é o caso da cinemática. Em Portugal a EXS é a única escola de formação focada em dotar os seus formandos de conhecimentos em biomecânica.
Mas afinal o que estuda a biomecânica? A definição clássica de Biomecânica é a de ser a ciência que estuda a estrutura e a função de sistemas biológicos como os seres humanos, animais, plantas, órgãos e células através da metodologia da mecânica.
Nas áreas especificas do fitness e reabilitação física emerge, assim uma nova área que é um sub-ramo da biomecânica, designada de Mecânica do Exercício. Esta permite estudar de forma mais prática e específica as matérias que interessam saber da biomecânica.
E para se estudar Mecânica do Exercício é preciso ter um domínio mínimo de 3 áreas fundamentais: anatomia, fisiologia e neurofisiologia.
Porquê? Porque quando aplicamos uma força a um corpo ocorrem respostas químicas, eléctricas, endócrinas e mecânicas. E temos que saber quais são!
Trata-se de um processo de estudo para a vida!
Eu diria que a biomecânica é a área de estudo mais incompreendida. Eu sei, pareceu um bocado melodramático :-).
Tomemos como exemplo a classe médica. O nível de estudo e dedicação que estes profissionais têm que ter para exercer a sua profissão é enorme. Só desta forma é que estes profissionais conquistaram o respeito e reconhecimento de toda a sociedade.
Ora acham que os profissionais de fitness e de reabilitação física não têm grandes responsabilidades quando aplicam força a um corpo sabendo as consequências que estas podem gerar? Se queremos ter o respeito que outras classes profissionais e da própria sociedade, temos que nos dedicar da mesma forma ao estudo das matérias fundamentais para elevar o nível e reconhecimento desta profissão.
É neste sentido que vos deixo o conselho para escolherem profissionais que estudam biomecânica. Terão assim, uma garantia de que essa pessoa dedicará o seu tempo a procurar a melhor solução para as suas articulações.
Bons treinos e boas leituras!
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Referências:
May, C. et al. Affect of Microgravity on Cardiac Shape: Comparison of Pre- and In-flight Data to Mathematical Modeling. J Am Coll Cardiol. 2014;63 (12)
Williams, D. et al. Acclimation during space flight: effects on human physiology. CMAJ. 2009; 180(13): 1317–1323.
Alexander, R. Mechanics of animal movement. Current Biology. 2005; 15(16).
Hatze, H. The meaning of the term ‘biomechanics’. Journal Of Biomechanics. 1974; 7(2): 189-190.
Uau!! Grande texto!!!
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Muito obrigado Marina. Ainda bem que gostou 🙂
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